Governador de Pernambuco e prefeito
do Recife foram apontados como duas das três pessoas responsáveis pela
negociação do repasse do montante. Ministro das Cidades, Bruno Araújo, e
senador Fernando Bezerra Coelho também são citados.
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Eduardo Campos, Paulo Câmara, Geraldo Júlio e Fernando Bezerra Coelho, todos do PSB de Pernambuco, são citados como beneficiários de propinas |
O ex-governador de Pernambuco, Eduardo
Campos, morto
num acidente de avião em 2014, foi acusado de negociar a quantia
de R$ 15 milhões em propina durante a campanha à presidência da República, no
mesmo ano de sua morte. A informação foi repassada pelo diretor da holding
J&F, empresa controladora do frigorífico JBS, Ricardo Saud, durante delação
no dia 5 de maio, na sede da Procuradoria Geral da República, em Brasília.
Além de Campos, o atual governador de
Pernambuco, Paulo
Câmara, o prefeito do Recife, Geraldo
Julio, o senador Fernando Bezerra Coelho e o ministro das Cidades, Bruno
Araújo, também são citados como integrantes das negociações e recebimento de
valores. (Veja no vídeo acima)
Segundo Saud,
Eduardo Campos receberia mais dinheiro conforme o crescimento de sua campanha
presidencial. “Um cara novo, de futuro, aí a gente resolveu investir nele. Nós
pusemos lá um limite, pra iniciar, pra ver as coisas. Falamos ‘nós vamos deixar
aqui pra você uns R$ 15 milhões de propina, se você começar a crescer, nós
vamos melhorando isso aí’, e isso foi feito”, conta.
Ainda de acordo
com o diretor, o prefeito Geraldo Julio, o governador Paulo Câmara e uma pessoa
chamada Henrique, da empresa HMJ Consultoria, também negociavam o pagamento de
propina. “Exatamente no dia que ele [Eduardo Campos] faleceu, eu estava com
Henrique, que era a pessoa dele que ele mandava, ou Geraldo Julio, ou Paulo
Câmara, para ir tratar das propinas”, detalha.
Apesar da
promessa de R$ 15 milhões, Saud explica que o pagamento efetivo foi de R$
14,650 milhões ao ex-governador de Pernambuco. O pagamento, segundo o delator,
foi feito por meio de notas fiscais avulsas e pagamentos em espécie. Desse
total, foram pagos R$ 210 mil em junho de 2014, para a HMJ Consultoria, empresa
do próprio “Henrique”. Em setembro, houve o pagamento de R$ 1 milhão para a
empresa Arcos Propaganda LTDA.
De acordo com o delator, essa empresa participou do esquema após ter sido
apresentada pelo senador Fernando Bezerra Coelho (PSB). “Com a morte de Eduardo
Campos, Paulo Câmara e Geraldo Julio me procuraram e falaram ‘olha, cara, temos
que honrar aí, temos que organizar isso, porque temos que ganhar a eleição
agora em Pernambuco, em homenagem a Eduardo Campos. Paulo Câmara tá aí pra
ganhar'”, lembra.
Ainda segundo
Saud, o pagamento da propina não chegou a ultrapassar o combinado inicial de R$
15 milhões. “Falamos ‘olha, nós vamos pagar as contas que nos comprometemos,
até R$ 14 milhões nós vamos pagar, o resto não vamos pagar mais nada’”. Com a
determinação, o diretor da J&F conta que Câmara e Geraldo tentaram
aprofundar as negociações. “[Eles disseram] ‘ah, nós não temos condição,
estamos na campanha’ e chegamos no meio termo que íamos pagar para não
atrapalhar a campanha, e ainda dar uma propina pro Paulo Câmara lá em
Pernambuco em dinheiro vivo”, afirma.
O diretor da
JBS menciona, ainda, o pagamento de R$ 200 mil em espécie para o ministro das
Cidades Bruno Araújo, feito por André Gustavo Vieira da Silva, no Recife. Confira todo o trecho da delação de Ricardo Saud em que são
citados os políticos pernambucanos:
Respostas
Por meio de nota, o governador Paulo Câmara afirmou:
"Venho repudiar, veementemente, a exploração política do depoimento do
delator Ricardo Saud, que já antecipo não corresponde à verdade. Não recebi
doação da JBS de nenhuma forma. Nunca solicitei e nem recebi recursos de
qualquer empresa em troca de favores. Tenho uma vida dedicada ao serviço
público. Sou um homem de classe média, que vivo do meu salário." Ainda de
acordo com o texto, "o próprio delator afirma (no anexo 36, folhas 72 e
73) que nas doações feitas ao PSB Nacional 'não houve negociação nem promessa
de ato de ofício', o que significa que jamais houve qualquer compromisso de
troca de favores ou benefícios". O governador reafirma ainda que todas as
doações para a campanha ao governo do estado foram feitas "na forma da
lei, registradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral".
Por meio de
nota, o prefeito Geraldo Julio também repudiou “veementemente as acusações” e
esclareceu que nunca tratou de recursos ilegais com essa empresa ou com
qualquer outra. Ainda de acordo com o texto, “o próprio documento divulgado
pela Justiça registra que as doações feitas à campanha do PSB não foram feitas
por troca de favores”. O prefeito do Recife também alega que todas as doações
recebidas pelo partido foram legais.
A defesa de
Fernando Bezerra Coelho informou ao G1 que
“todas as doações para a sua campanha ao Senado foram devidamente declaradas e
aprovadas pela Justiça Eleitoral”. A defesa do parlamentar alega, ainda, que
não teve acessos aos referidos autos e repudia as declarações unilaterais
divulgadas, ratificando “que elas não correspondem à verdade”.
A reportagem
também procurou a assessoria do ministro Bruno Araújo, mas ainda não obteve
retorno. O G1 segue
tentando contato inicial com as empresas Arcos e HMJ Consultoria.
Veja na íntegra o Depoimento de Ricardo Saud
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